pequenas incursões na RAIA - umBu - e os seus carnudos frutos - c´ RAIA  

 Esta é a saga - história - acção - sina do UMBU - fruto carnudo da árvore do umbuzeiro. 


Criado da destruição pela frustração de não sentir ponto de fuga. Sem concretização aparente, submergido em interrogações hesitantes, perguntando embriagado, de olhos fechados, perguntando qualquer coisa em desequilíbrio absoluto, UMBU aproveitou-se - e aproveita-se ainda - dos restos, escombros entulhados.

Reaproveitou, reciclou com paciência e esmero todos aqueles pedaços do puzzle implodido. As camadas, o pó, os papéis, as ideias, os projectos vão se sobrepondo, misturando-se, criando uma espécie de bolo alimentar que vai fazendo o seu caminho ao longo de uma estrada sinuosa. Juntou, apresentando-se também ele como mais um excedente, excedente que, ultrapassando os limites e passando ao lado dos alvos, se precipita para aquilo que não se vê, para o inesperado. Um excedente cinético. Assim, viveu os restos. Passou por eles novamente e pela primeira vez. Caminhando em forma de circunferência, um estranho círculo. Um sentimento paradoxal onde, ao mesmo tempo, se avança e se recua. Uma potência de fazer e se-fazer, onde as possibilidades são todas e coexistem num estado quântico.

Passou tardes ao sol com o Amolador, sem acreditar em nada daquilo que era dito e com uma urgência comichosa em reproduzi-lo. Transformou, espalhando essas palavras debitadas de forma lúcida e surreal. Palavras momento do amolador subversivo, subtilmente esculpidas na sua acutilante roda de amolar. Devaneios desconcertantes ecoando na cabeça, descortinando possibilidades móveis e escorregadias, saídas em forma de folhas amareladas e frágeis. Noites com mãos pegajosas, partilhando o seu (não) credo e a sua (não) fé. Viu, sozinho, o único que valia a pena na cidade, pelo seu desapego, mesmo carregando consigo o passado de todos. Um homem que fala e ele ainda ouviu.

Também UMBU cruzou o charco, bebeu a força do Novo Mundo, caiu na melancolia platense, molhou os pés nas correntes do rio... Comeu o suor precário de feirante nómada. Suor suado em bica, de despertar no fogo e delirar doente de calor. Um ar transpirado que nos unia e pegava. Aborrecido de estar deitado, temendo o tecto que baixava constantemente na sua direcção, passeou. Caminhava balançando as mãos, ouvindo o ruído das chinelas, de um lado para o outro, reconstruindo histórias suadas, ouvidas em ar aspirado, quente e húmido, com a expressão de eterna preguiça na cara.
Também se salvou.
Um, dois, três, em saltos desconexos, caminhou velozmente através dos outros. Imóvel, improdutivo e inútil propôs jogos de dimensão e intimidade. Criava, construindo mapas dessa imensidão sem medida, cartografias de absurdos que habitam o inconsciente dos lugares. Viveu em casas dos outros que também eram dele. Sentiu o medo do familiar e o nojo da banalidade. E sobreviveu. Inchou. Acreditou também. Para compreender, destruí-se, suspendendo a seriedade, sendo sempre o outro, num labirinto que nada tem a ver com o espaço, mas sim com o tempo.
UMBU viu o valor do inútil e criou, não fazendo nada de novo. Acumulou e transformou, adquirindo forma só para se manifestar, esses pedaços de puzzle antigo, agora novo e fresco. Experimenta nascimentos como actos entusiasmantes, tendo o cuidado de os transportar e repetir tantas e tantas vezes, quanto as vontades espácio-temporais. Pois, sabe agora que tudo é repetível e que as experiências nunca devem ser pessoais. O que interessa são as camadas e a grossura destas (o que interessa são os outros e ele). E também, ou só, as palavras, a sua entoação, a presença que as rodeia e confirma.
UMBU são projectos já projectados e vivenciados. São perguntas e perguntas para relançar novas possibilidades. São ritmos e significações dissonantes e grotescas. São imperfeições. Como a vida. A sua vida. Reinvenção em contínuo movimento, que mais não é que simulacro da vida, através de símbolos, inventos, palavras.
Também UMBU são livros, humanos, sinestésicos e respiráveis.
Vive a vida inteira e nunca fez (nem fará) senão experimentar
UMBU é isto. Sem fim. E mais.

ZineFest - 1, 2 e 3 de Dezembro no Porto

aventuras no "mercado" editorial...


                                       os homens que preferem morrer a trair as  mulheres                          

                                                   (aventuras com o texto do Nuno Oliveira)

                                                                    O AFRICANO                                                                                          ( um livro a coser)                   

         dissonâncias de ritmo - making of


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