O Outro, uma história de ausência.

Olhou, olhou como se estivesse ali para presenciar, legitimar algo, embora a bruma teimasse, não deixando ver nitidamente os contornos do que iria acontecer. Os seus olhos penetravam naquele turvo vazio. No seu olhar descobriu um vulto sem extensão, sem dimensões definidas. Via-o, deixava de o ver, e, porém, acompanhava todos os seus movimentos de uma maneira tão extrema, tão íntima como se penetrasse, de cada vez, em si mesmo.                                                                                                                                                                                                                  (Um quotidiano ao revés, uma cortina que se abre revelando o antes, o depois, em constante retro-alimentação, premonição na ausência que manobra as personagens.)                                                                                                                    Sai de si, deslizando pelo vazio, dispersando-se no Outro, no Africano, no Outro. Uma sensação vaga, mas infinitamente precisa, sem qualquer obstáculo, em bruma, confundindo-se com o Outro, o Africano, instalando-se naquele local que o seu olhar adivinhava.

Momentos antes daquele Instante presente, apareceu o Outro. Mas este, aborrecido pela solidão, adormece e sonhou que o Africano lhe dizia: "antes de mim não há nada, o tempo suspende-se, o espaço de tão virgem não existe.". E assim continuava a abrir sulcos na terra, a plantar sementes, a esperar. Sonhou que, ao olhar para o lado, via um palco vazio, uma cortina fechada. Esse reconhecimento (ou não-reconhecimento) fazia-o um profeta premonitor. E sonhou, mas só sonhou, que, por uma vez, podia moldar o espaço, reconstruir o cenário e dar voz ao Africano. Também voltou a semear e esperou vida, acreditando que a ausência virginava o espaço. Cada olhar era como uma chegada à Realidade, sentia o sonhado, renunciando totalmente à sua realização. Assim, o sonho que durou um instante, transladou-se, para ele, no Real. E foi, então, que conseguiu antever o nada que, em momentos se cobriria de acção, de movimento, de mistério. Olhava, criava, descansava. Olhava, criava, descansava. Olhava, criava, sem descanso. Rápido, curto, intenso, concreto, até.

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