O AFRICANO
acontecimentos - enigmas - suspense
em tempos vazios
esboços para um puzzle
Espreitámos e vimos. O Africano. Retratos de situações absurdas, de mistérios em potência. Histórias noir num fato de cores berrantes. Como um puzzle, todas as situações se completam e encaixam, criando assim um suspense insondável, que é já a própria vida do Africano. Enigmas num quotidiano ao revés
SOB ÁGUAS ARISCAS
Sempre se está à beira do abismo. No limite. Arrastados pela corrente voraz e imparável. Sobrevivendo nos escombros e nos restos. Sem contar. Sem pedir. Inevitabilizando a acção de esfumar-se, transformar-se, monstroalizar-se. Ele, no outro.
REFLEXO DO ESPELHO DELATOR
Encontrou. Encontrámo-lo. No dia dos encontros suspeitos, numa confidência fatal. As cartas estavam marcadas. Era ali e agora que aconteceria a mutação,o gato de muitas caudas. Devorou tudo.
O CASO DO HOMEM DUPLO
Com a passagem dos dias, mais e mais telefonemas sinistros, palavras derradeiras, momentos finais. Um enigma para loucos que o desfez. Como um soro da verdade, cai o pano, desvendando tudo ou nada. Um gosto amargo de casos fortuitos. Os outros podem voltar.
HERANÇA DE UM INFERNO
Abriram-se as portas vidradas numa expiação perigosa. O relógio parado marcava um interlúdio negro, derrotando a lógica das novas mil e uma noites. As sete chaves atiram-no para um baile sem música, para a vitoriosa desforra do torturado. O truque falhado na manga do traidor.
A PISTA DA VELA TORCIDA
Nessa longa espera, a máscara cinzenta de uma noite sem fim. O lobo solitário queda-se alerta, mudo e misterioso. Em busca das bandejas de oiro, que o conduzirão ao homem de confiança. O único de quatro homens justos. Comportando-se como uma máquina pensante em acção, embala-se, docemente, com o duplo crime na rádio, num álibi que se tornará fatal.
A IMACULADA FRAUDE
Os lamentos do ganso coxo não cessam. Cresce o enigma na escuridão. Como um terror a prestações, sente a derradeira palavra naquele porto das brumas. O caso sem solução da confidente traidora. Os dados viciados levam ao esconderijo. Ao seu túmulo de prata, fruto de uma vingança brutal. Agora, a fera tem de morrer.
PEGAR OU LARGAR
Imobilizado, consciente e ingénuo. Cuidado com as curvas, nesse drama do atlântico no lugar recôndito onde os elefantes não esquecem. A liga dos homens assustados revela-se e, como de costume, não há volta atrás. As cartas estão novamente na mesa e, novamente, se volta a jogar. Em espiral fatídica, predestinada, maldita.
SOBREVIVÊNCIA : ZERO
Os dias anónimos pareciam armadilhas ao acaso, baladas tristes e solitárias num reino de perversidade. A contagem decrescente até zero não pára, nem com o relógio parado. As madrugadas sucedem-se naquele apartamento fatídico. A última chamada arrepia com o mesmo som macabro da raposa que ri.
A DERRAPAGEM
A flecha assassina erra, mas nem sempre, no jogo da vida. A cilada do jogador que o obriga e obrigará a recomeçar uma e outra vez. Os problemas triplicam e a protecção da seita dos sapos não chega. É o santo contra o tigre, numa luta de mão decepada, onde o adversário é secreto. O diabo que resolva e abra a porta do meio para o sonâmbulo entrar.
FUMO SEM FOGO
O círculo vermelho reacendeu, repleto de intrigas e veneno. O último encontro aproxima-se, velozmente, na lâmina de um machado denunciante. Ouvem-se ao longe os incendiários da floresta, a bomba-relógio bate como um tambor, os índios já transportam o ataúde. O funeral era inadiável, assim que o fantasma do crepúsculo tirasse a sua máscara.
prefácio
O AFRICANO - esboços para um puzzle
Apareceu, assim, o Africano. Este Africano é atleta, nadador, agricultor, culturista, macrobiótico, juiz-desembargador, conhecedor de práticas artesanais já perdidas, desenhador de espelhos multi-reflectores, dono de uma vasta obra totalmente desconhecida de arrojadas técnicas plásticas e escritas (afirmando o próprio ser de vicissitudes tais que não deve ser ainda divulgada), com uma forte voz de tenor, mesmo ninguém a tendo ouvido. Optando sempre por usar pseudónimos, é completamente impossível precisar a extensão da sua obra e a sua divulgação, podendo estar e ser qualquer uma deste mundo. Inútil, portanto, o Africano. Passa os dias a criar sentidos, acaso-sentido, ambíguo-sentido, vida-sentido, pairando assim por um contínuo quotidiano ao revés, possibilidades constantes de mundos para além deste. Fragmentado, então, o Africano. Facilmente confundido com objectos e trajectos insignificantes, esquece rapidamente quem é, mimetizando posturas e rotinas. Atemporal e aespacial, só existe passeando ao acaso pelo tempo. Existencialista, o Africano.
Aproximou-se da janela. Afastámos a cortina e vimos. Isto. Tudo. O Africano.